POEMAS ESCOLHIDOS



































Os lírios 
Primavera, s/d - Adelson do Prado (Brasil, 1944)
óleo sobre tela, 72 x 72 cm



Henriqueta Lisboa 






Certa madrugada fria

irei de cabelos soltos

ver como crescem os lírios.



Quero saber como crescem

simples e belos — perfeitos! –

ao abandono dos campos.



Antes que o sol apareça,

neblina rompe neblina

com vestes brancas, irei.



Irei no maior sigilo

para que ninguém perceba

contendo a respiração.



Sobre a terra muito fria

dobrando meus frios joelhos

farei perguntas à terra.



Depois de ouvir-lhe o segredo

deitada por entre lírios

adormecerei tranquila.




Fonte: Nova Lírica, Henriqueta Lisboa, Belo Horizonte, Imprensa Oficial: 1971.



VAI-SE A LASCIVA MÃO



VASCO GRAÇA MOURA


vai-se a lasciva mão devagarinho

no biquinho do peito modelando

como nuns versos conhecidos quando

uma mulher a meio do caminho



era de vento e nuvens, sombras, vinho,

e sonoras risadas como um bando.

os dedos lestos vão desenredando

roupa,cabelos, fitas, desalinho.



a noite desce e a nudez define-a

por contrastes de luz e de negrume

ponto por ponto, alínea por alínea.



memória e amor e música e ciúme

transformados nos cachos da glicínia,


macerando no verão sombra e perfume.





TÃO DOCE



MARIA TERESA HORTA




Tão doce quanto secreta

tão secreta

e tão vazia



Tem no peito um leopardo

e alma de malvasia



Tão duvidosa e perene

tão ardente que despia



Do coração a pantera

que no corpo lhe crescia



Tão macia quando era



se era meiga

e sedenta



Veneno de beladona
doce de cereja preta









ROSA E LÍRIO 



ALMEIDA GARRETT



A rosa
é formosa:
bem sei.
Porque lhe chamam – flor
d´amor,
não sei.


A flor,
bem de amor
é o lírio;
tem mel no aroma – dor
na cor
o lírio.


Se o cheiro
é fagueiro
na rosa,
se é de beleza – mor
primor
a rosa.


No lírio
o martírio
que é meu
pintado vejo: - cor
e ardor
é o meu.


A rosa
é formosa,
bem sei...
E será de outros flor
d´amor...
não sei...




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