sábado, 28 de setembro de 2013

O SONHO


Conheça a Primeira Revista Feminina do Nordeste – O Lyrio



07/06/2013 09:14h



Revista Feminina mensal O Lyrio: representante da imprensa de orientação feminina conhecida como “imprensa perfumada”
*Por Poliana Nascimento
     
     Primeira Revista Feminina do Nordeste. Circulou por dois anos no alvorecer do séc. XX. Redigida e editada pela mulher do jurista Clóvis Bevilaqua, Amélia de Freitas Bevilaqua. Defendia a educação das mulheres e a igualdade de direitos. Eram publicados temas literários femininos de autoras estrangeiras.
     
     Surgiu em 5 de novembro de 1902 e continuou a publicação regularmente até o mês de junho de 1904, quando circulou o nº 20. Teve como corpo redacional: Amélia de Freitas Bevilaque (redatora-chefe), Cândida Duarte de Barros (redatora-secretária), Edwiges de Sá Pereira, Maria Augusta Freire, Belmira Villarim, Adalgisa Duarte Ribeiro, Luiza Cintra Ramalho e Ursula Garcia (redatoras).
     
     Nela foram publicados poemas, contos, crônicas, críticas literárias das primeiras escritoras nordestinas e de algumas do Rio de Janeiro, além de traduções de poemas, na maioria de poetas franceses e algumas fotos de mulheres atuantes na literatura ou na ciência. Os artigos publicados tratavam de questões religiosas, a luta das mulheres da época, a criação da universidade no Brasil (no Rio de Janeiro), noticiário social, uma seção de passatempo, raros originais de músicas e anúncios nas páginas inferiores da capa. Os clichês eram confeccionados em Portugal e na Itália.
     
     A redação situava-se na rua do Lima nº 54, residência da redatora-secretária, custando 1$000 o exemplar e 2$000 a assinatura trimestral. O primeiro número foi confeccionado na Imprensa Industrial, à rua Visconde de Itaparica (hoje – do Apolo) nº 49/51, saindo os demais da tipografia A Província, situada à rua do Imperador nº 19.
      
     As dirigentes da revista preocupavam-se bastante com a sua distribuição, feita não só em território nacional mas também no exterior. A revista mantinha contato com colaboradoras no Uruguai, em Montevidéu, na Argentina, em Buenos Aires,  na França, em Paris, Lyon e Vincènnes. Um fato real é o elogio feito à revista brasileira peloColumma del Hogar, em Buenos Aires.

Referências recomendadas:

1.   O LYRIO. Recife, PE: Typ. A Província, 1902 – 1904.

2.   MENDES, Algemira Macêdo. Amélia Carolina de Freitas Beviláqua: “uma piauiense notável”. In: ____. Maria Firmina dos Reis e Amélia Beviláqua na história da literatura brasileira: representações, imagens e memórias nos séculos XIX e XX. Disponível em: http://tede.pucrs.br/tde_arquivos/16/TDE-2007-06-20T155835Z-693/Publico/390035_p1_282.pdf. Acesso em: 17 maio 2013.

3.   MÍCCOLIS, Leila. Mulheres da Belle-Époque e suas parcerias textuais Lyrio-Líricas. Disponível em:http://literaciareteses.blogspot.com.br/2010_07_04_archive.html. Acesso em: 17 de maio 2013.

4.   MORAIS, Maria Luiza Nóbrega de. Presença feminina no jornalismo pernambucano: dos primórdios à regulamentação profissional. Disponível em: http://www.ufrgs.br/alcar/encontros-nacionais-1/5o-encontro-2007-1/Presenca%20feminina%20no%20jornalismo%20pernambucano%20dos%20primordios%20a%20regulamentacao.pdf. Acesso em: 17 maio 2013.

5.   NASCIMENTO, Luiz do. História da imprensa de Pernambuco (1821 – 1954). Volume VII. Periódicos do Recife – 1901/1915. Recife: Imprensa Universitária, 1975. p. 83 – 85.

*Poliana Nascimento é bibliotecária, chefe do Setor de Obras Raras.

>> ONDE ENCONTRAR O LYRIO?Setor de Obras Raras da BPE
Telefone para agendamento de visita: 81. 3181- 2650




quinta-feira, 26 de setembro de 2013

MANIFESTO DA CONSPIRAÇÃO DO LYRIO



MANIFESTO DA "CONSPIRAÇÃO DO LYRIO" 


Diante das reiteradas indagações que nos foram endereçadas sobre o nome "CONSPIRAÇÃO DO LYRIO" venho publicar o nosso MANIFESTO dizendo inicialmente que segundo a Wikipédia, (http://pt.wikipedia.org/wiki/Conspira) uma "CONSPIRAÇÃO" é uma combinação entre duas ou mais pessoas físicas com o objetivo de "lesar" outrem em algum momento futuro, e, em alguns casos, com pelo menos um ato secreto para fomentar essa combinação. Não há limite ao número de pessoas que participam de uma conspiração. Ora, queremos lesar, destruir, fulminar, extirpar a ignorância, por isto conspiramos poesias que são secretas em nossos corações e pensamentos, mas que haverão de ser transformadas em poemas, publicadas e lidas, pois sabemos que a leitura prejudica seriamente a ignorância. 

Quanto ao "LYRIO", tomo emprestado os sábios dizeres da festejada poeta e escritora Leila Micóllis expostos no maravilhoso artigo de sua autoria MULHERES DA BELLE-ÉPOQUE E SUAS PARCERIAS TEXTUAIS LYRIO-LÍRICAS, (http://literaciareteses.blogspot.com.br/2010_07_04_archive.html), quando com maestria ao tratar do "Lyrio" assevera que: " Se à primeira vista, (O Lyrio - referindo-se a revista de poesia que nos inspirou o nome e da qual nossa patrona - Úrsula Garcia, foi co-fundadora) aparenta ser constituído apenas de um romantismo piegas e simplório, logo nos deparamos com vasta e intrincada rede de sentidos nele contida: sendo uma planta do lodo, em muitas civilizações antigas o lírio era associado à magia, por suas propriedades alucinógenas (o que nos lembra os famosos paraísos artificiais dos decadentistas, com seus de-lírios...). Na Grécia, encontram-se lírios pintados em vários palácios ao lado de Hera, deusa da lua, magicamente poderosa principalmente em sua fase de “lua negra”; e, devido à sua “palidez”, o lírio, em algumas regiões era flor ligada também à morte, tema recorrente nos decadentistas e simbolistas, que tanto prezavam os aspectos místicos e os temas espirituais. Mais: a flor de lis é o símbolo da monarquia francesa.

Em 1919, André Gide (1966:93-94) utiliza-se do lírio para questionar a sociedade francesa de seu tempo, quando, em La Symphonie Pastorale, trava um diálogo com Gertrudes, uma jovem cega, comentando que não há mais lírios no campo, porque os homens os destruíram. E, quando ela afirma que o ser humano, com um pouco de confiança, pode recomeçar a vê-los, seu interlocutor desloca habilmente a reflexão para o âmbito estético, concluindo que eles são tão belos quanto ela os vê. Ou seja: a noção conceitual de beleza reside na percepção do observador, em sua contemplação, independentemente dos lírios serem reais, imaginados, ou imaginários. Diante de tantas e tão diferentes interpretações e sentidos, entender o lírio apenas como um delicado símbolo de pureza, é rejeitar as contradições, mistérios e paradoxos a ele inerente, entre os quais estão a lama que o nutre, o misticismo, o ocultismo, os delírios, a palidez, e a morte". 

Tudo isto é uma conspiração com o objetivo de vencer a escuridão da ignorância opondo-lhe o brilho solar da poesia. 

Esta a nossa conspiração. 

Este o nosso manifesto. 

UMA LEMBRANÇA - Úrsula Garcia


quarta-feira, 25 de setembro de 2013

MULHERES DA BELLE-ÉPOQUE E SUAS PARCERIAS TEXTUAIS LYRIO-LÍRICAS



MULHERES DA BELLE-ÉPOQUE E SUAS PARCERIAS TEXTUAIS LYRIO-LÍRICAS




Leila Míccolis*

Em geral associamos o período da belle époque apenas com sofisticação e glamouralização da vida, que se pautava no modelo europeu, especialmente o de Paris, a “Capital da Luz”, o berço da cultura. A França era o referencial da elite intelectual brasileira. Víamos o país através do olhar forâneo, a ponto de João do Rio indagar provocativamente no título de uma crônica, publicada em 11/8/1908 na Gazeta de Notícias: “Quando o Brasileiro Descobrirá o Brasil?”. Para nos restringirmos a um único autor nosso, Bilac quase todos os anos viajava para a Europa. Ele pertencia a uma geração de escritores que se ufanava de possuir duas pátrias: a pátria do nascimento, dos laços afetivos, e a pátria do espírito, da inteligência e da cultura, que era a França” (JORGE, 1992, p. 267).

Em meio a esta “Paris Tropical” a que o Rio de Janeiro se transformou no governo de Rodrigues Alves (15/11/1902 - 15/11/1906)e sob a administração do Prefeito Pereira Passos (que contou com Quintino Bocaiúva e Paulo de Frontin para reurbanizar o cais e o centro da cidade da capital federal), esquecemos de que este período foi marcado também por muitos descontentamentos e que certas mudanças vieram acompanhadas de grandes tumultos, como a Revolta da Vacina, que se opunha à lei de 31 de outubro de 1904 que estipulava a obrigatoriedade da vacinação contra a febre amarela e a varíola, e os métodos drásticos para fazer cumprir a lei, utilizados por Oswaldo Cruz. Podemos situar as contribuições das mulheres, no começo do século XX, dentro deste conjunto de mudanças de base.

Opostas aos dândis, que brilharam por sua teatralidade explícita e ostensiva, as mulheres à primeira vista pareceram apagadas, sem impacto. Achamos importante tocar, mesmo en passant, nesta conexão às avessas, neste avessismo, uma vez que os próprios dândis tinham verdadeira ojeriza à mulher-senso-comum – lembremo-nos do texto de BAUDELAIRE (1995:526), ou mesmo de Rimbaud (CLARET, 1996, p.110-111) sobre as mulheres, criticando-as por serem por demais reais, “naturais”, terra-a-terra e pouco inteligentes, já que mulher inteligente, para ele, tinha que ser “diferente”, um ser de exceção. A imagem de femme fatal, com “as angulações de uma beleza perversa, de um encanto contaminador, cujo surto motiva espasmos de prazer e terror” (BOUÇAS, 2002, p.141-142), não podia estar mais longe da realidade das escritoras da belle époque brasileira, mulheres totalmente comuns, todas elas “do lar”. No entanto, se fizermos um zoon aproximativo, percebemos que elas construíram, à época, um grande teatro de máscaras também, disfarçando suas estratégias combativas sob gestos serenos e sorrisos doces.

Acusam-nas de conservadoras. Porém, só na pele de modelos exemplares, elas podiam ser ouvidas e respeitadas pela sociedade de então. Deve-se à má-interpretação de suas falas suaves e discretas, a pouca valorização de suas vozes pela crítica brasileira. Neste sentido, ironicamente, suas cintilações muitas vezes foram invisíveis a olhos nus, configurando-se em uma espécie de fulguração bruta, sem lapidação, um brilho oculto, portanto – “maçanetas de ouro maciço, mas oxidadas e desbotadas, para escondê-las”, bem a maneira de des Esseintes (SALGADO: 2007, p.54).

Esta invisibilidade acontece até hoje. Adriana Braga, da UNISINOS – Universidade do Vale dos Sinos, no Rio Grande do Sul, examinando a imprensa feminina no Brasil do início do século passado, afirma:

(...) Moda e literatura compunham o par principal que sustentava as publicações femininas brasileiras. Um eixo de sustentação que colaborava com a imagem doméstica da mulher, conforme destacado por Buitoni (1990:41), que considera os veículos conservadores nesse ponto. Por alguns títulos da época, O Lírio, A Violeta, A Borboleta, O Beija-Flor, A Esmeralda, A Grinalda, O Espelho pode-se inferir como a mulher era vista pela sociedade desse tempo (BRAGA:2003).

Discordamos frontalmente deste reflexo do imaginário da mulher aliado, somente, ao sentido mais óbvio dos títulos das revistas da época. Acreditamos que esses nomes funcionavam mais como fachadas, camuflando verdadeiras barricadas por trás deles, e mascarando suas intenções dentro de um bem montado teatro de máscaras – inclusive muitas autoras escreviam sobre pseudônimos e heterônimos, seus alter egos. Dependendo da revista, as receitas de bolo, os conselhos de etiqueta e as sugestões para agradar os maridos podem muito bem ser percebidos como elementos deste teatrum mundi em que todo ser oprimido ou grupo estigmatizado atua, consciente ou inconscientemente. 
Procedamos ao exame, por exemplo, do título da publicação que é tema central deste nosso ensaio, e que está na lista das revistas acima citadas por Braga: O Lyrio. Se à primeira vista, ele aparenta ser constituído apenas de um romantismo piegas e simplório, logo nos deparamos com vasta e intrincada rede de sentidos nele contida: sendo uma planta do lodo, em muitas civilizações antigas o lírio era associado à magia, por suas propriedades alucinógenas (o que nos lembra os famosos paraísos artificiais dos decadentistas, com seus de-lírios...). Na Grécia, encontram-se lírios pintados em vários palácios ao lado de Hera, deusa da lua, magicamente poderosa principalmente em sua fase de “lua negra”; e, devido à sua “palidez”, o lírio, em algumas regiões era flor ligada também à morte, tema recorrente nos decadentistas e simbolistas, que tanto prezavam os aspectos místicos e os temas espirituais. Mais: a flor de lis é o símbolo da monarquia francesa. Em 1919, André Gide (1966:93-94) utiliza-se do lírio para questionar a sociedade francesa de seu tempo, quando, em La Symphonie Pastorale, trava um diálogo com Gertrudes, uma jovem cega, comentando que não há mais lírios no campo, porque os homens os destruíram. E, quando ela afirma que o ser humano, com um pouco de confiança, pode recomeçar a vê-los, seu interlocutor desloca habilmente a reflexão para o âmbito estético, concluindo que eles são tão belos quanto ela os vê. Ou seja: a noção conceitual de beleza reside na percepção do observador, em sua contemplação, independentemente dos lírios serem reais, imaginados, ou imaginários. Diante de tantas e tão diferentes interpretações e sentidos, entender o lírio apenas como um delicado símbolo de pureza, é rejeitar as contradições, mistérios e paradoxos a ele inerente, entre os quais estão a lama que o nutre, o misticismo, o ocultismo, os delírios, a palidez, e a morte.

O Lyrio era uma publicação de teor exclusivamente literário, o que o coloca em um patamar especial dentro da imprensa feminina da época. Havia escritoras feministas, e até mulheres que cursaram uma faculdade (de medicina, por exemplo). Porém a maior parte das escritoras brasileiras da belle époque, quando tinha uma profissão remunerada, era constituída por professoras, às quais era proibido tudo, desde os prazeres mais ingênuos até casar-se. Para termos uma pálida idéia da total repressão ao corpo feminino, em Barcelona, cidade de um país de primeiro mundo, o contrato de professores entre a instituição de ensino e a professora contratada, em 1923, exigia à senhorita, sob pena de anulação do contrato profissional:

1. Não se casar. 2. Não andar na companhia de homens. 3; Ficar em casa entre às 8 h. da noite e às 6 da manhã, a não ser que seja para atender a uma função escolar. 4. Não passear pelas sorveterias do centro da cidade. 5. Não abandonar a cidade sob nenhum pretexto, nem permissão do presidente do Conselho de Delegados; 6. Não fumar cigarros. 7. Não beber cerveja, vinho ou uísque; 8. Não viajar em carruagem ou automóvel com qualquer homem, exceto seu irmão ou seu pai. 9. Não vestir roupa de cores brilhantes. 10. Não prender os cabelos. 11. Usar, pelo menos, duas anáguas. 12. Não usar vestidos que fiquem a mais de cinco centímetros acima dos tornozelos. 13. Manter a sala limpa; a. varrer o chão da sala de aula pelo menos uma vez por dia; b. lavar o chão da sala de aula, pelo menos, uma vez por semana, com água quente e sabão; c. limpar o quadro-negro, pelo menos, uma vez por dia; d. acender o aquecimento às 7 h., de maneira que o cômodo esteja quente às 8h, quando as crianças chegam. 14. Não usar pó de arroz, não se maquilar e nem pintar os lábios (extraído e traduzido de APPLE, Michel W.).



Se assim era, na Espanha, em 1923, imaginemos no Brasil, em 1900 (o Instituto de Educação, na época denominado de Escola Normal da Corte do Brasil foi fundado em no 6 de março de 1880, apenas nove anos antes da Proclamação da República, e instalado em 5 de abril do mesmo ano, com a presença do Imperador a rainha Cristina e inúmeras personalidades). Desde o Decreto 7247 de 19 de abril de 1879, em seu artigo 24, a mulher tinha “a liberdade e o direito de a freqüentar os cursos das Faculdades e obter título acadêmico.'' Porém esta Reforma Leôncio de Carvalho, promulgada pelo Imperador Dom Pedro II, não lhes dava o direito ao exercício da profissão. Até quase que os meados do século XX a única profissão reconhecida como nobre reservada à mulher – ainda mais de classe média baixa - era o magistério, prolongamento de suas funções maternas, embora, tornar-se professora, significava – como lemos acima – ser invadida em sua privacidade, e também acumular as funções de empregada doméstica dentro da escola que a contratava, sendo-lhe, ainda, vetados quaisquer tipos de “divertimentos mundanos”, mesmo os mais pueris, em nome da honra, da moralidade e do decoro.

Com um corpo passivo, totalmente reprimido e castrado, também pela moda da época – espartilhos, anquinhas, chapéus sob o calor de um país tropical, – restritas a cumprir fielmente, até a morte, o dito popular “mulher perdida, gosta; mulher direita, deixa”, é fácil imaginar que as mulheres “sérias” encontrassem na literatura, um oásis. Nele, não podiam propriamente ser o que quisessem, pois até neste campo a ficção podia ser entendida como projeção de sua imagem pessoal, porém pelo menos conseguiam libertar-se por momentos das algemas do cotidiano.

Foram publicados vinte números de O Lyrio, que circulou durante o período de janeiro de 1902 a 1904, em Recife, Pernambuco. Amélia Beviláqua era a redatora-chefe. Nascida no sertão do Piauí, Jerumenha, em 1861, foi esposa do jurista Clóvis Beviláqua, autor do projeto do Código Civil Brasileiro em 1889, promulgado em 1916. Até em sua vida privada, o casamento com Clóvis ilustra os padrões da sociedade patriarcal da época: pela livre vontade do marido, ele teria escolhido e desposado a irmã mais nova de Amélia, de quem, inclusive, já era noivo (MENDES, 2004, p.57); mas seu futuro sogro, o desembargador José Manuel de Freitas, seguindo a tradição familiar da época, decreta que a filha mais velha deveria casar-se em primeiro lugar, e concede somente a mão de Amélia; e as núpcias realizam-se em 1883. Cremos ser esta uma expressiva ilustração das ressonâncias atmosféricas da imagem finissecular em relação às mulheres. Neste caso específico, porém, o casamento favoreceu Amélia, que aprendeu francês e inglês – idiomas que falava fluentemente – e dedicou-se às Letras.

O Lyrio foi uma publicação literária tão importante no panorama brasileiro que Silvio Meira a ela dirigiu-se nos seguintes termos: “Essa revista, digna da melhor apreciação no quadro da evolução da literatura brasileira, abriu espaço às mulheres intelectuais, e constituía, sem dúvida, uma novidade nos meios sociais e culturais pernambucanos” (MEIRA, 1990, p.454). Em 1902, a revista já apresentava fotos de pessoas e lugares, grande inovação, pois, no que tange a publicações femininas, a primeira a publicar imagens foi a Revista Feminina no Rio de Janeiro, no ano anterior. Fora da capital federal, dificilmente uma publicação, ainda mais produzida por mulheres, no Nordeste, podia sonhar com tal requinte; porém, graças a este “luxo”, a Historiografia da Literatura Brasileira beneficiou-se muito com o resgate deste preciosíssimo acervo iconográfico.

O Lyrio também trazia assinaturas (2$000 por trimestre e 4$000 por semestre) e anúncios, em geral de página inteira, no final de cada edição mensal – de consultórios médicos, e odontológicos, além de produtos farmacêuticos, enormes ousadias, em um tempo em que

“A sobrevivência através do trabalho intelectual para a mulher era vedada. Em 1850, começam a aparecer, com freqüência, versos de mulheres, que publicavam com a ressalva de não auferir nenhuma remuneração para o seu trabalho. Esta situação era explicitada na capa ou no prefácio do livro Echos da minh’alma, de Adélia Fonseca, editado em 1866” (MENDES, 2004, p.44).

A República traíra os ideais das mulheres. Para permanecemos em três únicos exemplos, citamos, primeiramente o de Maria Augusta Meira de Vasconcellos Freire – uma das fundadoras de O Lyrio –, que obtém o título de bacharel em Ciências Jurídicas e Sociais, pela Faculdade de Direito do Recife (com dezessete anos era a terceira mulher a obter este título no país), e, estando de posse do seu diploma, pensa em exercer a profissão para a qual se preparara, mas não consegue, pelo fato de ser mulher. Durante meses, ela mantém polêmicas pelos jornais, com ex-colegas ou antigos professores, enfrentando comentários jocosos, irônicos que a ridicularizam, ou ataques frontais. Chega a escrever ao marechal Deodoro da Fonseca, instância máxima do País, pedindo que se desse à questão "uma resolução definitiva". O documento é enviado à instituição que seria hoje a Ordem dos Advogados, e depois de muitas discussões, a resposta definitiva que lhe vem é a de que o Direito brasileiro inspira-se no Direito Romano; e como em Roma as mulheres não exerciam a advocacia, aqui também não... O segundo exemplo diz respeito ao parecer do governo contrário à reivindicação da Drª Isabel de Souza Mota, cirurgiã-dentista, que, em 1885, requereu, em vão, seu alistamento eleitoral na sua cidade natal (São José do Norte/RS), com base na Lei Saraiva (09/01/1881), que garantia o direito de voto ao portador de títulos científicos. Por fim, já em 1930, a própria Amélia é impedida de concorrer a uma vaga na Academia Brasileira de Letras, pelo fato de ser mulher. Essas exclusões, entre diversas outras, serviram para provar que as mulheres continuavam alijadas do espaço político, sem direito a voto, ao exercício das profissões (a não ser professoras, caso se submetessem a todas as regras coercitivas antes enumeradas) e confinadas aos espaços privados.

No interior do Brasil, a situação era ainda mais trágica, sendo o trabalho para a mulher inimaginável. “Poucas mulheres se aventuraram a escrever e publicar, em virtude das restrições do modelo patriarcal” (MENDES, 2004, p.136). O único lugar onde a mulher podia atuar com soberania era dentro do lar, na esfera doméstica. Assim, invadir o espaço público e ainda custear uma revista de mulheres com assinaturas e anúncios era, na época, um ato de extrema coragem, raríssimo, até porque, em 1902, frise-se, “poucas são as escritoras admitidas no cânone literário brasileiro. Todas as que produzem literatura visando a um público, ao “espaço público” e não ao privado, ‘forçam’ um lugar para a mulher num cânone marcadamente masculino” (MENDES, 2004, p.47). 
Entretanto, O Lyrio tinha formas múltiplas de atuação, inclusive também se fazia presente nos saraus lítero-musicais, outro espaço privado em que a mulher era sempre bem-vinda. Engana-se, porém, quem pensa nesses salões apenas como eventos de manifestações artísticas. Essas rodas sociais eram um espaço privado que “dava continuidade à esfera pública, onde as transferências econômicas e os grandes negócios se concretizavam” (CARVALHO, 1995, p.2-3). A maior preocupação da revista era multiplicar os canais de participação das mulheres em todas (ou pelo menos em inúmeras) esferas sociais: no lar, na escola, nos salões, nas ruas – naturalmente as “reportagens de rua” eram restritas a fatos importantes, como o caso da recepção a Santos Dumont, pelo seu regresso de Paris, (O LYRIO, nº 12, p.8), no final de 1903.

A revista proporcionava o encontro de escritoras renomadas, como: Ignês Sabino (romancista abolicionista), Francisca Clotilde, Francisca Izidora (jornalista), Rosalia Sandoval, Santina Potiguaré, entre tantas outras. Tinha como secretária Cândida Duarte de Barros, substituída, a partir do nº 3 (1903:01) por Úrsula Garcia. E, como colaboradoras fixas, do primeiro até o último número, Maria Augusta Meira de Vasconcelos Freire (advogada, como mencionamos e a primeira mulher a candidatar-se a deputada, em 1890), Edwiges Sá Pereira (feminista), Adalgisa Duarte Ribeiro e Luiza Ramalho. No número 17 (1904:10), contamos trinta e três colaboradoras brasileiras – desde o Amazonas ao Rio Grande do Sul – e, no exterior, a revista mantinha contato com colaboradoras no Uruguai, em Montevidéu, na Argentina, em Buenos Aires, e na França, em Paris, Lyon e Vincènnes. O conteúdo da revista era composto de resenhas, notas de obras recebidas, perfis bibliográficos, e até mesmo as raras seções de passatempos, na última página, envolviam literatura, mitologia, história e cultura geral. A prosa e a poesia eram escritas em estilo predominantemente romântico, como era de se esperar, pois no Brasil, principalmente no tocante às mulheres, ainda predominavam as idéias românticas européias. 


As parcerias textuais entre as escritoras eram bastante comuns, dentro da revista, acabando por tecer uma rede de homenagens, motes e respostas, que nos lembram os hipertextos contemporâneos: Ignez Sabino com Francisca Izidora, Alcina Leite com Rita Sousa, Cândida Barros com Francisca Clotilde, entre muitas outras. No entanto, foram Amélia Beviláqua e Úrsula Garcia as que mais se destacaram pela interatividade. Vamos nos ater, neste Colóquio, apenas a entrever o grau da parceria particular entre Amélia e Úrsula, e, depois, finalizar com duas observações genéricas, que nos parecem de capital importância no contexto de nosso temário.

Úrsula Garcia da Costa Barros, nasceu em 03/03/1864, em Aracati, Ceará, e faleceu em Recife, Pernambuco, a 16/07/1905, um ano e um mês após o último número da revista. Sobre Úrsula, ou Ursulinha, como era chamada pelos parentes e amigos íntimos, escreveu Amélia, em seu livro Impressões, de 1929:

(...) Muito depressa, seus contos, poesias, traduções e muitos outros trabalhos esplêndidos foram objeto de referências elogiosas de diversos literatos do país. Até esse momento, viveu obscura, guardada em casa, como uma flor, que se esconde, temendo que a luz lhe ofenda as pétalas mimosas. Seus dias eram passados, singelamente, ao lado da família, onde era idolatrada (BEVILÁQUA, 1929, p. 73-74).

(...) Na posição de secretária do Lyrio, despachava a correspondência, escrevendo, além disso, para todos os números, artigos, poesias, notícias e ainda se incumbia dos sobrescritos e :ainda se incumbia dos sobrescritos e outros arranjos referentes ao seu cargo. E o tempo ainda lhs sobrava para traduzir romances, que publicava no Correio de Recife, e para ajudar a mãe nos trabalhos de casa (BEVILÁQUA, 1929, p.76).

A pesquisadora Algemira Mendes afirma que, mesmo depois de morta ainda vieram, de muitos pontos do Brasil, cartas a pedirem seu autógrafo. Amélia Beviláqua dedicava a Úrsula uma grande amizade e impressionava-a não somente sua sagaz inteligência, mas também um certo misticismo, que a envolvia numa aura de divindade.

Entre os que tiveram a sagração da artista, pode-se gravar o nome de Úrsula Garcia. Não deixou talvez renome. Em primeiro lugar, era mulher, depois, custa muito reconhecer a perfeição do que realmente é bom. Mas deixou funda lembrança nos que a conheceram intimamente e assistiram à sua deslumbrante ascensão (BEVILÁQUA, 1929, p.80).

O carinho era mútuo. Na última visita dominical que Úrsula fez à amiga, escreveu à margem de seu retrato um poema que começa e termina assim:

Um ano apenas tem nossa amizade
E o coração já não lhe sabe a idade.
(...)
Assim, a vós eu devo a vida dos meus versos,
A vida dos meus contos, a vosso coração:
Uma os ergueu do pó, donde eram dispersos,
Outra lhes deu ao sol lugar e proteção...
(BEVILÁQUA, 1929, p.86).

Convém ressaltarmos que a revista salvou não só Úrsula, porém muitas outras autoras da obscuridade e do anonimato, propiciando a elas projeção nacional e até internacional.
Das parcerias textuais e paratextuais de O Lyrio inferimos duas interessantes conclusões. Primeira: no âmbito da revista tais parcerias não significam somente resposta a textos, aqui e ali, ou mesmo material hipertextual; elas soam como estratégia de união e luta, irmanando mulheres em ideais que ultrapassam o campo literário, transgredindo e reagindo contra o status de total submissão vigente. “O Lyrio defendia, entre outras causas, a educação das mulheres, bem como a igualdade e os seus direitos” (MENDES, 2004, p.58), embora esses direitos reivindicatórios na época fossem apenas o de igualdade de oportunidade de ensino para todos. Em artigos muitas vezes polêmicos, embora escritos em estilo dúbio, de avanços e recuos, havia ferrenha crítica ao ensino ministrado nos colégios e a pouca oportunidade de acesso às mulheres mesmo a este ensino deficitário – vide Maria Augusta Meira de Vasconcelos Freire em “A instrução da mulher” (O LYRIO nº 2, 1902, p.1). No nº 4 (1903:1) a mesma colunista vai mais longe e aborda a necessidade de instalação de mais Universidades em nosso país. No número seguinte, em carta aberta à Amélia Beviláqua, EDWIGES DE SÁ PEREIRA (nº 5, 1903, p.9), prossegue o assunto, indagendoando: “Como exigir que a mulher ignorante aperfeiçoe o coração de uma criança, combatendo os seus defeitos? (...) Tem-se feito alguma coisa, é verdade, em prol da educação da mulher, mas não se fez tudo e muito resta ainda a fazer”. O Lyrio foi um instrumento combativo de luta em prol da emancipação política feminina, através da educação e da cultura.

A segunda observação diz respeito à “arte de flanar”. Como afirmou JOÃO DO RIO (1987:5) em A alma encantadora das ruas(1908), “flanar é a distinção de perambular com inteligência” e era nas páginas de O Lyrio que as mulheres circulavam, vagueavam, transitavam, se encontravam, explanavam suas idéias em público, expondo-se, e expondo pela primeira vez, não só o seu universo particular, como também a sua visão da sociedade em geral. As páginas impressas eram, portanto, as suas vias de acesso à participação social, as avenidas, pelas quais flanavam inteligentemente, à vontade, embora às vezes com passos tímidos e ainda incertos; e, O Lyrio, um local cosmopolita, era um logradouro urbano, apenas não tão feérico quanto o do Rio de Janeiro, ou seja, sem ofive tea o’clock da Confeitaria Colombo. Uma fulguração mais recatada, sem dúvida, mas não menos importante, em que O Lyrio destaca-se por mostrar, flagrantemente, que a belle époque no Brasil, no que se refere às mulheres, aliou-se às aguerridas parcerias textuais da imprensa literária – esta sob o inocente disfarce de líricos lírios –, para configurar a nossa literatura e, de forma ainda mais ampla, para estabelecer os contornos mais precisos de nossa identidade nacional.




Bibliografia:

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CAIRO, Luiz Roberto. Memória cultural e Construção do Cânone Literário Brasileiro. In Fronteiras imaginadas. Organização Eduardo F. Coutinho. Rio de Janeiro: Aeroplano Editora, 2001.


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CLARET, Martin, et all. Rimbaud por ele mesmo. São Paulo: Martin Claret, 1996.



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FALCI, Miridan Britto Knox. Amélia de Freitas Beviláqua: a intelectual piauiense avançada. Apresentação de trabalho/Comunicação. FNT – Fundação Nogueira Tapety (PI), [2001]. Disponível em: http://www.fnt.org.br/dwp.php?a=b46d45af1e.pdf&id=109. Acessado em 24.maio.2008.


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RIO, João do. A alma encantadora das ruas. Rio de Janeiro: Secretaria Nacional de Cultura, 1987.



SALGADO, Marcus. A vida vertiginosa dos signos. São Paulo: Editora Antiqua, 2007.



Leila Míccolis*

[Carioca, 30 livros editados (poesia e prosa), obras publicadas na França, México, Colômbia, África, Estados Unidos e Portugal, teatróloga, roteirista de cinema e escritora de novelas de tv, entre elas: “Kananga do Japão”, “Barriga de Aluguel” e “Mandacaru”. Elaborou verbetes para a “Enciclopédia de Literatura Brasileira” (MEC/OLAC) e também publicou: “Catálogo da Imprensa Alternativa”, 1986, pela RioArte/Prefeitª do RJ. Publicada na Revista Poesia Sempre (Biblioteca Nacional/MEC), consta do Banco de Dados Informatizados do Banco Itaú - Módulo Literatura Brasileira, Setor Poesia (categoria: “Tendências Contemporâneas”) e dos “Cadernos Poesia Brasileira” - vol. 4, “Poesia Contemporânea”, editado pela mesma instituição, 1997. Sua obra é citada e analisada por escritores como: Affonso Romano de Sant’Anna (Ed. Vozes/1978), Glauco Mattoso (Ed. Brasiliense/1981), Jair Ferreira dos Santos (idem/1986), Assis Brasil (Ed. Imago/FBN/UMC, 1998). Co-edita Blocos, com Urhacy Faustino, revista impressa e eletrônica.]


Fonte: http://literaciareteses.blogspot.com.br/2010_07_04_archive.html






LITERATURA FEMININA CEARENSE



Literatura Feminina Cearense - Introdução


 Dimas Macedo





A participação da mulher na literatura cearense, ainda que possa ser julgada inexpressiva, não seria merecedora do desprezo a que tem sido relegada pelos nossos historiadores. Talvez com as honrosas exceções de Sânzio de Azevedo e Otacílio Colares, responsável, este último, pela redescoberta de Emília Freitas e Francisca Clotilde, correto seria afirmar que a historiografia literária cearense carece de informações acerca da produção literária das nossas escritoras.


Tal como aconteceu com os Oiteiros, marco inicial da nossa formação literária, o ingresso da mulher na literatura cearense realizou-se através da poesia, cabendo indiscutivelmente a Úrsula Garcia o privilégio de ser a primeira poetisa a assinalar a sua presença no panorama da nossa evolução literária.


Insere-se essa poetisa no período de formação da literatura feminina cearense, no qual, além do seu nome, floresceram os de Ana Nogueira Batista, Emília Freitas, Francisca Clotilde, Ana Facó e Alba Valdez, que estiveram em evidência entre a última década do século dezenove e as primeiras décadas do século precedente.


Nasceu Úrsula Garcia da Costa Barros em Aracati, aos 03 de março de 1864, e faleceu no Recife, aos 26 de julho de 1905. Colaborou em jornais e revistas do Ceará e, em Pernambuco, registrou assídua presença nas páginas de O Lyrio, e ali publicou O Livro de Bela, em 1901, segundo Raimundo de Menezes, no seu Dicionário Literário Brasileiro (Rio, 2ª ed., 1978). 


Para Luiz da Câmara Cascudo, Úrsula Garcia foi “um espírito tranquilo e doce, a exemplo das moças prendadas de outrora. Escreveu muito, mas sua produção está esparsa e ignorada. Diversos artigos de política regional, de sua autoria, divulgados sem assinatura, eram dados como pertencendo aos jornalistas do tempo, tal a graça do retoque, a delicadeza do estilo, a finura dos reparos e a força convincente da argumentação”.


Filha de João Nogueira Rabelo e de Teresa de Albuquerque Nogueira Rabelo, Ana Nogueira Batista nasceu no Icó, aos 22 de outubro de 1870, e faleceu em Niterói (RJ), aos 22 de maio de 1967. Colaborou em diversos jornais e revistas do Ceará e de outros Estados, especialmente em O Pão, de Fortaleza; O Rio Negro, de Manaus; A Província do Pará, de Belém; Gazeta de Notícias, do Rio de Janeiro; e Cidade de Campinas, de São Paulo.


No Recife, para onde se transferiu, em 1899, foi redatora de O Lyrio. Deixou inédito um livro de poemas: Carmes, e era esposa do poeta Sabino Batista, o Sátiro Alegrete da Padaria Espiritual.


A Emília Freitas, nascida na antiga Vila de União, hoje Jaguaruana, aos 15 de janeiro de 1855, e falecida em Manaus, aos 18 de outubro de 1908, cabe o pioneirismo de ter sido a primeira romancista cearense e a primeira mulher a publicar um livro de poemas no Ceará. De sua autoria é o inventário de poesias: Canções do Lar (Fortaleza, Tipografia Universal, 1891), bem como o romance A Rainha do Ignoto, antecipador da literatura fantástica no Brasil, e que foi editado em Fortaleza, em 1899. Escreveu ainda o romance O Renegado, o qual, se realmente foi dado a público, seria hoje raridade bibliográfica.


Contista, romancista, teatróloga e jornalista, Francisca Clotilde Barbosa Lima nasceu em Tauá, aos 19 de outubro de 1862, e faleceu em Fortaleza, aos 08 de dezembro de 1932. De sua autoria são os livros: Lições de Aritmética (1889) e Coleção de Contos (1897), bem como o romance A Divorciada (1902) e as peças de teatro: Fabíola e Santa Clotilde. Além destes livros, deixou inúmeras poesias estampadas em jornais e revistas. 


Participou da campanha abolicionista e se posicionou como uma das pioneiras do movimento feminista, tendo fundado a Liga Feminina Cearense. Por conta do seu romance A Divorciada, considerado uma grande ousadia para a época, foi praticamente proscrita da sociedade fortalezense, vivendo o resto da sua existência em cidades do interior, especialmente em Baturité e Aracati.


Ana Facó, um nome injustificadamente esquecido, quando não, mal interpretado pelos nossos historiadores, nasceu em Beberibe, aos 10 de abril de 1855, e faleceu em Fortaleza, aos 22 de junho de 1922. Foi, sobretudo, romancista, contista, teatróloga, poetisa e memorialista. Sua obra literária, constante de seis volumes, foi publicada entre 1937 e 1938, segundo sua biógrafa Geraldina Amaral. Integram-na os romances: Nuvens e Rapto Jocoso, o livro de contos: Minha Palmatória, o inventário de peças teatrais: Comédias e Cançonetas, um volume de Poesias e um caderno de reflexões e reminiscências: Páginas Íntimas, livros, segundo a crítica, considerados da melhor qualidade.


Artur Eduardo Benevides, no seu livro: Evolução da Poesia e do Romance Cearenses (Fortaleza, 1976), embora reconhecendo a existência de dois romances de Ana Facó, termina arrolando o seu nome entre os “poetas sem livros publicados”. Já Marcelo Costa, na sua História do Teatro Cearense (Fortaleza, 1972), sequer faz alusão ao seu nome, o que não deixa de ser uma omissão. O mesmo diga-se com relação a Braga Montenegro, que preferiu ignorar o nome de Ana Facó quando da elaboração do seu monumental ensaio: Evolução e Natureza do Conto Cearense (Fortaleza, 1951).


Alba Valdez, pseudônimo de Maria Rodrigues Peixe, nasceu na então Vila de Uruburetama, hoje cidade de Itapajé, aos 12 de dezembro de 1874, e faleceu em Fortaleza, aos 05 de fevereiro de 1962. Pertenceu ao Centro Literário, ao Instituto do Ceará e à Academia Cearense de Letras. Em 1889, diplomou-se professora pela Escola Normal de Fortaleza e, em 1904, fundou a Liga Feminista Cearense, agremiação da qual foi presidente. Além de farta colaboração em jornais e revistas, publicou os livros: Em Sonho (1904) e Dias de Luz (1907), o primeiro de crônicas e páginas de ficção e o segundo de reflexões e recordações da adolescência.


A este grupo de mulheres pioneiras, deve ser juntado o nome de Abgail Sampaio, nascida em Paracuru, aos 09 de dezembro de 1897, autora de Luar da Pátria e Átomos e Centelhas, o segundo publicado em 1928. Seu nome figura em diversas antologias, bem como no livro: Evolução da Poesia e do Romance Cearenses, de Artur Eduardo Benevides.


Era irmã da também poetisa Maria Sampaio, nascida em Paracuru, aos 07 de janeiro de 1888, e que figura na antologia: Sonetos Cearenses (Fortaleza, 1938), de Hugo Victor Guimarães. Maria Sampaio foi coautora de Átomos e Centelhas. Poemas de sua autoria foram publicados em O Malho, bem como nas revistas Fon-Fon e Vida Doméstica, do Rio de Janeiro. Foi professora em Paracuru e, posteriormente, em Fortaleza, onde lecionou em diversos estabelecimentos de ensino.


Em 1948, as poetisas Jandira Carvalho, Fernanda Brito, Maria de Lourdes Vasconcelos Pinto e Stefânia Rocha Bezerra publicaram o livro de poemas Tetracorde e, em 1952, tiveram os seus nomes incluídos na Coletânea de Poetas Cearenses, de Augusto Linhares. Posteriormente, Jandira Carvalho e Fernanda Brito veriam os seus nomes na Antologia dos Poetas da Nova Geração, publicada no Rio, em 1950, pela Editora Pongetti, com prefácio de Álvaro Moreira; e Stefânia Rocha Nogueira passaria a figurar no livro de Cândida Galeno: Trovadores Cearenses (Fortaleza, 1976).


Posteriormente, novas produções e novas poetisas vão aparecendo no cenário literário cearense, como é o caso de Cantos e Preces (1951) e Pétalas ao Vento (1958), de Dolores Furtado; Meus Versos (1962), de Maria Nilce de Sousa; Zabumba (1962) e Hora Presente (1968), de Augusta Campos; É Outro o Meu Destino (1965) e Pensando em Você (1970), da Irmã Paula Bezerra; Divina Inspiração (1967), de Teresinha Bedê; Eterna Flama (1968), de Aracy Martins; A Escola Declama (1968) e A Rosa de Sol (1974), de Risette Cabral Fernandes; Poesias, Lendas e Canções (1968), Rosana (1974), Poemas e Trovas que Falam (1974) e Poemas e Hinos (1981), de Ana Frota Mendes; Crepúsculo Iluminado (1969), de Júlia Galeno.


A esse elenco, devem ser juntados os seguintes livros: Rosas do Meu Sonhar (1970) e Sonata de Trovas (1976), de Julieta Faheina Chaves; Imagens e Fantasia (1975), de Marinina Benevides; Boletim de Poesias (1977), de Beatriz Alcântara; Momentos (1979), de Ludmila Mendonça; Em Busca da Plenitude (1980), da Irmã Aurélia Férrer; Folhas ao Vento (1980), de Fernanda Benevides; Felicidade Procura-se (1981), de Claudete Lima; Estrela Inquieta (1981), de Cléa Vasconcelos; Somente Memórias (1982), de Irani Augusto; Viagem ao Redor de Mim (1982), de Aíla Diogo; Retalhos (1982), de Maria Adélia Leitão; Poesias (1983), de Iracema Régis; Raízes (1983), de Luzinete de Lemos Araújo; Flagrantes do Tempo (1983), de Maria Eurenice Coelho; e Cores (1984), de Rita de Cássia Araújo.


A poetisa Angélica Coelho é autora de diversos livros: O Orós em Delírio (1962); Luzes do Pensamento (1963); Ela e a Solidão e Nas Horas do Silêncio (1966); O Jangadeiro, Aquele Vaqueiro, São Sete Poemas, Fonte da Saudade e O Mundo das Ilusões (1970); Tiradentes, O Grito Real, Vida Eterna, Cantos dos Cantos, Nos Domingos Que São Meus e Todo Dia é Saudade (1972). O seu nome será referido oportunamente, quando formos tratar da contribuição feminina à prosa de ficção.


Cumpre registrar, também, que anunciaram livros que nunca foram publicados as seguintes poetisas: Rachel de Queiroz: Mandacaru; Henriqueta Galeno: Força Indômita; Violeta de Paiva de Castro: Voo Rasante; Elma de Sousa Alves: Vermelho e Amarelo em Campo Verde; Maria de Lourdes Vasconcelos Pinto: Poemas de Duas Faces; Marly Vasconcelos: Sala de Retratos; Auristela Bezerra: Sessenta e Cinco Sonetos; Telma Helena Aragão: Implosão; Eliane Lopes: Canto Juvenil; e Maria Irene Nobre: Rastros na Areia. O livro Radiorama, de Eva Paiva, é possível que tenha sido publicado, pois é dado por Hugo Victor Guimarães, nos Sonetos Cearenses, como estando no prelo em 1938.


No campo da longa ficção, merecem aqui referidos os nomes de duas escritoras inéditas: Julieta Filgueiras, autora de Aroeira, romance histórico baseado nas origens de Lavras da Mangabeira, e Auristela Bezerra, autora da novela Em Busca do Amor.


Henriqueta Galeno, nascida em Fortaleza aos 23 de fevereiro de 1887, e falecida na mesma cidade, aos 10 de setembro de 1964, é, como sabemos, a grande dama da literatura cearense. Além da poesia, enveredou por outros gêneros literários, tendo organizado o livro: Mulheres Admiráveis (Fortaleza, 1965). Fundadora da Casa de Juvenal Galeno, a qual dirigiu por um período de quase meio século, sendo neste posto substituída por Cândida Galeno, outra expressiva figura de mulher a ilustrar a nossa literatura.


A Henriqueta Galeno deve-se a criação da Ala Feminina da Casa de Juvenal Galeno, em torno da qual têm gravitado as mais expressivas mulheres de letras do Ceará, como é o caso de Jandira Carvalho, Fernanda Brito, Geraldina Amaral, Ruth Alencar, Ana Frota Mendes, Dolores Furtado, Olga Monte Barroso, Nazareth Serra, Anahid Andrade, Risete Cabral Fernandes, Maria Orildes Sales Freitas, Maryse Weyne Cunha, Maria Ilma de Lira, Maria de Lourdes Vasconcelos Pinto, Alba Frota e Maria Adísia Barros de Sá, sendo está última ensaísta das mais autorizadas, a quem muito devem o jornalismo e o ensino universitário cearenses.


Além dos seus escritos nas áreas da comunicação e da pesquisa filosófica, Adísia Sá é autora das seguintes teses acadêmicas: Filosofia e Comunicação (Recife, 1976) e O Homem e os Espaços Existenciais como Formas de Comunicação (Fortaleza, 1980).


Cândida Maria Santiago Galeno nasceu na cidade de Russas (CE), aos 18 de março de 1918, e passou a sua adolescência em Lavras da Mangabeira, transferindo-se depois para Fortaleza. É autora dos livros: Humanismo Telúrico do Nordeste (1971) e Ritos Fúnebres no Interior Cearense (1977), e de farta colaboração em antologias, publicações nas quais se revelou diligente ficcionista e exímia relatora de vivências do cotidiano.


Não nasceram no Ceará, mas à literatura cearense se incorporaram, pelo fato de aqui terem residido e aqui terem publicado os seus livros, as poetisas: Serafina Pontes, carioca, autora de Livro D’Alma (1894); Carmelita Setúbal, amazonense, autora de Retalhos D’Alma (1963), Gravetos de Sonhos (1964) e Trovas e Poemas (1965), e do romance Flor de Mandacaru (1971); Alvina Gameiro, piauiense, autora de Órfãos de Sonhos (1967) e de 15 Contos que o Destino Escreveu (1970); Rita de Lara, também amazonense, autora de Lantejoulas (1968); Marilita Pozzoli, paraibana, autora de Enquanto Espero as Rosas (1969) e Atire a Primeira Flor (1976); Baby Paes Fontenele, alagoana, autora de A Vinha de Nabot (1978); Rosalice Araújo, também alagoana, autora de A Hora de Agora (1978); Lourdes F. Araújo, paulista, autora de Folhas Reunidas (1979); e Margarida Alacoque, pernambucana, autora de Canto Encanto Desencanto (1983). 


Citadas, ainda, em antologias ou em estudos literários cearenses, têm sido as poetisas: Maria Duarte, Maria Facó, Ilka Lira de Lucena, Otília Franklin, Mirian Benevides Pamplona, Nívea Leite, Maria Salete Cavalcanti, Dulce Pereira, Neudira Gaspar, Maria Neuza de Barros, Fátima Girão, Célia Ribeiro, Glorinha Costa Lima, July Jacome de Mello, Maria Gonçalves, Francisca Maria Ximenes, Josélia Cavalcanti de Abreu, Maria Clara Nogueira, Lucíola Rabelo, Maria de Fátima Dourado e Fátima Mendes Araújo.


Com respeito a essas poetisas, diga-se que Maria Facó é natural de Beberibe, onde nasceu aos 10 de junho de 1886, e cuja produção precisa ser urgentemente resgatada; e que Maria Duarte é dada por Artur Eduardo Benevides como autora de livros cujos títulos ele não conseguiu identificar.


A fase renovadora da poesia feminina cearense aparece possivelmente com Yeda Estergilda, que em 1970, com plena consciência do fazer literário, publicou: Mais um Livro de Poemas, tendo retornado à atividade editorial em 1984, com o inventário de textos intitulado Grãos, publicado em São Paulo, pela Editora Massao Ohno.


O ano de 1973 marca a estreia de Marly Vasconcelos (Água Insone, Fortaleza, Gráfica Editorial Cearense), a qual, até hoje, permanece autora de um único livro de poemas, porém com força suficiente para manter-se em posição de vanguarda. Em 1979, dá-se a estreia de Regine Limaverde, com um caderno de poemas: Rio em Cheia, o qual seria seguido de Ressurgências, em 1982, ambos revelando uma poetisa já no domínio da sua criação.


Outra poetisa a quem quero me referir é Rosa Batista de Lima, nascida em Fortaleza, aos 06 de dezembro de 1941, e autora do livro de poemas: Ponto de Apoio (Rio, Editora Fontana, 1980). Tem recebido referências elogiosas da crítica, bem como participado das antologias: Chuva Fina, Respeitável Público e Doze Poetas Alternativos. 


Depois de Rosa de Lima, Regine Limaverde, Marly Vasconcelos e Yeda Estergilda, a grande revelação da poesia feminina cearense fica por conta de Marisa Biasoli, autora de Noite Adentro (1983). Sua estreia é de 1981, com o livro de poemas: Em Silêncio, editado de parceria com Cidinha Fonseca.


No entanto, por maior que tenha sido a inflação de poetisas na literatura feita no Ceará, o certo é que o destaque literário feminino das letras contemporâneas cearenses fica com a ficção, onde brilham os nomes de Rachel de Queiroz, Margarida Saboia de Carvalho, Heloneida Studart, Hilda Gouveia de Oliveira, Nilze Costa e Silva e Yolanda Gadelha Theófilo.


Mas é certo também que aqui poderíamos arrolar os nomes das seguintes romancistas: Angélica Coelho, autora de Ritmos Humanos (1949), Decadência de Uma Geração (1963) e Festival de Tormentos (1970); Maria Ilma de Lira, autora de Serrinha (1961); Stela Nascimento, autora de Mulungu (1973); Carminha Clark Nunes, autora de Migalhas de Felicidade (1978); Elza Batista Aragão, autora de Janina (1981) e Caminhos da Humanidade (1983); e Helena Cunha, autora de O Grito do Silêncio (1983).


Rachel de Queiroz, integrante da Academia Brasileira de Letras, nasceu em Fortaleza, aos 17 de novembro de 1910, e se tem destacado como jornalista, cronista, teatróloga e, principalmente, romancista. São de sua autoria: O Quinze (1930), João Miguel (1932), Caminhos de Pedra (1937), As Três Marias (1939), A Donzela e a Moura Torta (1948), 100 Crônicas Escolhidas (1950), Lampião (1953), A Beata Maria do Egito (1958) e Dora Doralina (1975).


Margarida Saboia de Carvalho nasceu em Fortaleza, aos 23 de setembro de 1905, e faleceu na mesma cidade, aos 09 de junho de 1975. Destacou-se como professora e jornalista, tendo militado no extinto Diário do Povo, de propriedade do seu esposo, o escritor Jáder de Carvalho. De sua autoria são os livros: Coração do Tempo (1964), A Vida em Contos (1964) e Crônicas (1976), o primeiro publicado pela Ed. Instituto do Ceará e o último pela Editora Terra do Sol.


Heloneida Studart é natural de Fortaleza (09 de abril de 1925). Tem atuado como jornalista e como uma das líderes do movimento feminista brasileiro. Foi Deputada à Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro. De sua autoria são os romances: A Primeira Pedra (1955), Diz-me o Teu Nome (1956), A Culpa (1964), Deus Não Paga em Dólar (1968), O Pardal é um Pássaro Azul (1975) e O Estandarte da Agonia (1981), além de livros de ensaios, entre eles o conhecidíssimo Mulher, Objeto de Cama e Mesa (1969).


Natural de Granja (20 de setembro de 1920), Hilda Gouveia de Oliveira tem se destacado como ficcionista, sendo autora dos romances: Os Sete Tempos (1971), Os Distraídos (1975) e O Longo Curso do Minuto (1982), bem como do ensaio: Estrutura dos Processos Descritivos (1980). Exerce as funções de Professora do Departamento de Letras Anglo-Germânicas da Universidade Federal do Rio de Janeiro.


Aos 19 de fevereiro de 1950, nasceu a romancista Nilze Costa e Silva na cidade de Natal, transferindo-se, ainda na infância, para Fortaleza. É técnica de administração do INPS e autora dos livros: Viagem (1981), No Fundo do Poço (1982) e O Velho (1983), todos editados pela Secretaria de Cultura do Estado. 


Outro nome que se impõe na literatura cearense, com bastante força criativa, é o da contista, cronista, poetisa e ensaísta Francilda Costa. Bacharela em Letras e professora de língua portuguesa, Francilda é autora de Encontro Maior (1980), O Sótão – Baú de Memórias (1981) e Ladrilho, O Chão de Todos (1982). Trata-se, no caso, de uma das nossas escritoras mais imaginosas, em cujo texto a mordacidade e a erudição aparecem como vetores da sua escritura literária.


De Yolanda Gadelha Teófilo são os romances: Longa Tarde Sem Manhã (Rio, Edições O Cruzeiro, 1967), Instante Dentro do Tempo (Santa Maria/RS, Editora Palloti, 1972) e As Acácias Estão Florindo (Fortaleza, Editora Henriqueta Galeno, 1977). Também de sua autoria é o livro: Eu e o Tio Sam (Rio, Biblioteca do Exército, 1963).


Quanto à ficcionista Sandra Lacerda, autora de Nada de Novo Sob o Sol (1967), registre-se ser ela o pseudônimo de Lúcia Fernandes Martins, nascida no Rio de Janeiro, aos 24 de março de 1926, e residente no Ceará, desde 1941. Em 1953, publicou o romance: Destinos Cruzados e, em 1971, o livro de novelas: Janelas Entreabertas. 



No que tange ao ensaio literário, não é menor a participação da mulher na literatura cearense; também nesse campo a inteligência feminina se distinguiu pela sua qualidade. Basta que aqui citemos os nomes de Dinorá Thomaz Ramos: Padre Antônio Thomaz – Príncipe e dos Poetas Cearenses (1950), Vera Lúcia Moraes: A Arte Poética de Artur Eduardo Benevides (1978); Aglaêda Facó: Guimarães Rosa – Do Ícone ao Símbolo (1982); Noemi Elisa Aderaldo: Nos Caminhos da Literatura (1983); e Dulce Maria Viana: Cara e Coroa (1983). 


A estes, devem ser acrescidos os nomes de Auri Moura Costa: Misérias da Casa de Detenção (1968); Beatriz Alcântara: La Revolte Positive de Simone de Beauvoir (1973); Regina Fiúza: O Pão da Padaria Espiritual (1977); Moreninha Augusto: Manual da Mulher (1982); Ruth Abtibol: O Quinze à Luz da Linguística (1982); e Maria Eurides Pitombeira Freitas: As Ideias Literárias de José de Alencar: Um Programa Nacionalista (1984). 


No campo da historiografia, especialmente alocada para o registro da nossa produção literária, não podemos esquecer o nome de Maria da Conceição Souza; nem ignorar a reputação das professoras e historiadoras: Zélia Viana Camurça e Valdelice Carneiro Girão, sócias pioneiras do Instituto do Ceará.


Já no pertinente às ciências sociais e políticas, merecem referidos os nomes de Luciara Silveira Aragão: A Ibiapaba no Século XVII e Uma Análise de Suas Condições Socioeconômicas (1976); Maria Arair Pinto Paiva: A Elite Política do Ceará Provincial (1979); Sinhá D’amora: Quarenta Anos de Vida Artística (1981); Maria Magnólia Lima Guerra: Aspectos Jurídicos do Uso do Solo Urbano (1981); Teresa Frota Haguette: O Mito das Estratégias de Sobrevivência (1982); Amália Xavier de Oliveira: O Padre Cícero Que eu Conheci (1982); e Rejane Monteiro Augusto Gonçalves: Lavras da Mangabeira – Um Marco Histórico (1984).


O número de cronistas, no Ceará, também é expressivo, destacando-se, ente elas, as seguintes escritoras: Ione Arruda Gomes: Poça D’Água (1981); Maryse Weyne Cunha: Contemporização (1982); Maria Orildes Sales Freitas: Caminhos por Onde Andei (1982); Valdelice Alves Leite: Ao Correr da Pena (1974), Contrastes e Detalhes (1979) e Mensagens e Acontecências (1983); Angela Marinho: Mulher no Cio (1984); e Luiza Correia Lima: Lavras – Ontem e Hoje (1984). 


Em torno do Grupo SIN de Literatura, gravitaram as poetisas: Lêda Maria e Inêz Figueredo, as quais deixaram os seus nomes e a sua produção na SINantologia (1968). Lêda Maria apareceria depois na antologia Poesia Cearense de Hoje, organizada por Carneiro Portela (1973).


Já no Grupo Siriará de Literatura, fizeram-se presentes: Marly Vasconcelos, Joyce Cavalcante, Fernanda Teixeira Gurgel do Amaral, Lydia Teles e Maryse Sales Silveira, a última poetisa e a penúltima autora de três livros inéditos, que até agora não sabemos se foram publicados. De Fernanda Teixeira Gurgel do Amaral é o livro de contos: O Mínimo D’Água (1978) e o inventário de textos: Trivial Variado (1984).


Joyce Cavalcante é, talvez, a mais integral revelação que a prosa de ficção cearense tem destacado, de último, no cenário das letras brasileiras. É autora dos romances: De Dentro Para Fora (1978) e Costela de Eva (1980), bem como do livro de contos: Livre & Objeto (1981).


Outro nome que merece destaque é o de Ana Miranda, nascida em Fortaleza em 1951. Ana residiu em Brasília e mora atualmente no Rio de Janeiro, para onde se transferiu em 1969. Publicou dois livros de poemas: Anjos e Demônios (Rio, José Olympio Editora, 1978) e Celebrações do Outro (Rio, Editora Antares, 1983).


Na presente resenha, não descemos a maiores valorações (lembrando-se aqui a data referencial da pesquisa: julho de 1984). A abordagem crítica que está a exigir um trabalho desta natureza será objeto de futura investigação, que a esta se seguirá em encadeamento lógico. É o que espero.

Nota do Autor: Data Referencial da Pesquisa: Julho de 1984